Acervo histórico é muito
rico mas corre risco de desaparecer
por Manuel Fontoura, Ndalatando
A degradação património histórtico da província do Kwanza-Norte visível um
pouco por todos os municípios, levou a direcção local da Cultura a uma reflexão
sobre a situação, em saudação ao dia 18, dedicado mundialmente aos monumentos e
sítios.
Até finais dos anos 90, Angola tinha 23 monumentos reconhecidos pelo Comité
Internacional dos Monumentos e Sítios (Icomos), oito localizados no município
de Cambambe (Kwanza-Norte).
Os mais conhecidos são a fortaleza de Massangano casario de Cambambe, igreja de
Nossa Senhora do Rosário e de Nossa Senhora da Vitória, ambas do século XVI.
Ainda dessa época, destaque para as ruínas do Tribunal de Massangano.
No século XVIII há a Real Fábrica de Ferro de Nova Oeiras, onde se
fabricaram os primeiros canhões para a tropa portuguesa, o Cruzeiro e o
palacete “Casa dos Bentes”.
Este património está em ruínas.
Em Massangano, 40 quilómetros a Noroeste do Dondo, para prevenir tragédias
foi proibido o culto na igreja de Nossa Senhora da Vitória.
Os palacetes “Leão” e “Casa dos Bentes”, na sede do município e a capela da
Nossa Senhora do Rosário têm as paredes arruinadas e estão sem tectos. Há
monumentos que sofreram alterações com a aplicação de materiais que lhe
retiraram a originalidade.
Em Cambambe as autoridades solicitam políticas concretas de protecção e
conservação dos monumentos.
Em reiteradas ocasiões. o Governo disse que a defesa e manutenção do acervo
monumental é tarefa de todos os membros da sociedade e enquadra-se também
dentro de parcerias com ONG, organismos estatais, empresários e outros.
Sítios históricos
O director provincial da Cultura do Kwanza-Norte, David João Buba, afirmou
que para além de Cambambe, todos os municípios da província têm pelos menos um
monumento ou sítio histórico que deviam ser conservados e valorizados.
O Kwanza-Norte é uma região do país com um importante acervo de monumentos
e sítios históricos e só perde para Mbanza Congo.
David Buba identificou monumentos no Cazengo, como o Palácio D. Teles
Carreira e a casa de passagem do Presidente Agostinho Neto, ambos localizados
no Kilombo, cerca de sete quilómetros a Sudoeste de Ndalatando.
As ruínas do Tribunal no Zavula na região de Caculo Camuiza na Canhoca,
Colónia de São João, são igualmente monumentos e sítios importantes.
Ainda no Cazengo encontramos as furnas do Zanga, a primeira casa que em
1942 serviu de escola primária.
David João Buba citou ainda a Casa Verde, na comuna da Cerca, Golungo Alto,
e o grande fortim do Mussungo, antigo quartel colonial. No Golungo Alto, na
comuna de Cambondo, existe a casa onde o poeta e nacionalista António Jacinto
viveu na sua infância e juventude, para além das grandes casa construídas de
pedra na Kipemba, a três quilómetros da vila de Cambondo.
No Kilombo dos Dembos (Ngonguembo), encontramos a granja portuguesa e o centro
do Tumba. Na comuna de Camame, município de Ngonguembo (Kwanza-Norte),
encontram-se grandes edifícios que estão igualmente na classe de monumentos e
datam dos os séculos XVII e XVIII mas estão em ruinas.
Na região da Pamba, no Lucala, existe também o fortim que foi um dos
presídios onde se instalou a administração de Ambaca, quando na altura o
município se tornou distrito.
Foi em Ambaca que Paulo Dias de Novais foi feito prisioneiro quando ia combater
contra as forças de Ngola Kiluange. “Só isso é um grande valor da resistência
colonial. Paulo Dias de Novais foi solto numa troca de prisioneiros, vindo a
perder a vida tempos depois em Massangano onde foi sepultado”, sublinhou o
responsável da Cultura, David João Buba.
O director da Cultura, refere em Samba Cajú, o histórico cemitério de Cahenda,
que data dos séculos XVII e XVIII.
“Devemos classificar também o rio Môngua, que tem água salgada.
Na comuna de Samba Lucala, ainda na municipalidade de Samba-Cajú, precisamente
a na região de Dala Capanga, encontra-se o local onde em 1959 a população negra
reivindicou as suas terras usurpadas pelas autoridades coloniais.
Em Caculo Cabaça (Banga) há três pedras gémeas onde se encontra o sinal de
Ngola Kiluange e a primeira capela construída pela igreja católica.
De acordo com o director da Cultura, David João Buba, uma equipa de peritos
da UNESCO deslocou-se recentemente a Ndalatando para uma reavaliação e
levantamento dos monumentos e sítios históricas da província.
Uma missão de todos
Todos os angolanos devem participar activamente na defesa, preservação,
valorização e divulgação do património histórico-cultural, colaborando com o
Estado na manutenção da memória colectiva da nação.
Para comemorar o dia mundial dos sítios e monumentos, foi traçado um
programa que inclui palestras sobre a importância dos monumentos e sítios
históricos da província e momentos reflexão, valorização e visitais aos locais.
As palestras vão decorrer um pouco por toda a província e participam
estudantes do Instituto Superior Pedagógico do Kwanza-Norte, alunos do ensino
médio e funcionários públicos.
David Buba aplaude a ideia do Governo e reforça o pensamento segundo o qual
“nenhum povo pode coexistir com outros povos e sobreviver sem memória de si
próprio”. Reconhece que os sítios ajudam a compreender o ambiente natural.
Do Jornal de Angola, Abril de 2010.
Sublinhado nosso.