sábado, 19 de novembro de 2011

BANGA- recuperação económica

Artigo publicado no "Jornal de Angola" a 11-11-2011 e enviado pelo nosso colaborador António Cardoso

Em tempos idos considerado um dos celeiros na produção de café, o município da Banga, localidade que dista 153 quilómetros a norte da cidade de Ndalatando, mudou a aposta para a produção de mandioca.
A par disto, tem vindo a recuperar a actividade socioeconómica com o surgimento de novas infra-estruturas. Para facilitar a livre circulação de pessoas e bens dispõe de dez vias de acesso, quatro secundárias e seis terciárias que ligam a sede municipal aos restantes municípios, comunas e bairros.
“Quando cá cheguei, em relação a meios de comunicação e de telecomunicações, não havia quase nada”, recorda o administrador municipal da Banga, na província do Kwanza-Norte, à medida que fala da extensão territorial de 1.259 quilómetros quadrados subdividido pelas comunas de Caculo-Cabaça, Aldeia Nova e Cariamba.
De lá para cá, a vida da população daquela região tem vindo a registar progressos significativos em comparação aos últimos três anos. Cristóvão João Kieza fala com entusiasmo da recente ligação ao mundo através dos serviços de telefonia móvel e assegura que a Banga passa por uma fase de desenvolvimento do ponto de vista das infra-estruturas.
“Temos hoje um município em que as autoridades procuram dar resposta aos principais anseios e necessidades da população e que está a conhecer o desenvolvimento das suas infra-estruturas”, destaca.
O contexto fez com que fossem erguidos de raiz cerca de 10 sistemas de captação e distribuição de água potável e respectivos chafarizes nos principais aglomerados populacionais, recuperado e ampliado o centro municipal de saúde e o edifício da administração, enquanto os trabalhos de compactação do terreno para a construção de 200 residências no âmbito do programa nacional de habitação já tiveram início.
Nos próximos dias, é inaugurado o novo comando municipal da Polícia Nacional e prosseguem as obras de reabilitação dos principais troços rodoviários. Desde o início do ano, o programa de reabilitação e terraplanagem recuperou 23 quilómetros de estradas dos principais troços rodoviários que dão acesso ao município. A esse número, juntam-se os 18 quilómetros restaurados em 2010. O programa, que é contínuo, visa manter as estradas em condições de circulação e isto pode ser aferido pela fluidez na circulação rodoviária. Apesar de não ser o desejável as condições melhoraram.

Cristóvão João Kieza assume que o principal desafio assenta sobretudo na recuperação socioeconómica e realça que o Programa Municipal Integrado de Desenvolvimento Rural e Combate à Pobreza veio revolucionar a vida no município.

Apoio aos camponeses

Tido como um município potencialmente agrícola, a maior parte da população da Banga produz para o seu auto consumo. A aposta incide na mandioca, mas a banana, o feijão, jinguba, milho, pevide, inhame, abóbora e macunde completam as principais culturas.
Através do Programa Municipal Integrado de Desenvolvimento Rural e Combate à Pobreza os camponeses foram potenciados com equipamentos e terras preparadas.
Para a época agrícola que se avizinha uma série de acções está em curso. Cristóvão João Kieza realça que foram preparados e estão prontos para serem distribuídos aos camponeses perto de 400 hectares de terra.
 Mais de três mil e 500 famílias foram contempladas com duas toneladas de sementes e as colheitas obtidas na época agrícola passada prenunciam bons indicadores de produção para o próximo ano agrícola.  O transporte dos produtos dos camponeses para as zonas de comercialização tem o apoio da administração, o que possibilitou escoar mais de 50 toneladas de bens diversos.
A agricultura de subsistência ainda detém o domínio e está na forja a mudança para a agricultura mecanizada, com os olhos postos na obtenção de rendimentos. Para que o processo avance os camponeses recebem ensinamentos sobre técnicas modernas de trabalhar a terra.
Os primeiros passos para a exploração da madeira começam a ser dados e o potencial hídrico da região faz com que o mesmo aconteça com a criação de gado bovino.

Energia eléctrica e comunicação

Embora com limitações, muitos habitantes já beneficiam de energia eléctrica, graças a montagem de grupos de geradores na sede municipal e nas três comunas, que totalizam acima de 1.000 KVA. Os beneficiários tiram proveito dela de segunda a sexta-feira, no período das 17h30 às 5 horas do dia seguinte, e aos finais de semana em regime ininterrupto, mas com intervalo para o reabastecimento. O processo de ligação de energia eléctrica aos domicílios, que abrange 130 residências, não está concluído e Cristóvão João Kieza dá garantias em alargar o seu fornecimento ao maior número de interessados.
“Existem aspectos técnicos que escapam da nossa responsabilidade e tão logo as pessoas criem condições nas suas residências estaremos disponíveis para fazer a ligação”, disse. Ana Pedro, que regressou a Banga dois anos após o fim da guerra, depois de cumprir um exílio forçado, por vezes nem encontra palavras para descrever a situação em que encontrou a terra que a viu nascer e os progressos que a mesma tem vindo a conquistar.
“Quando cá cheguei, em 2004, faltava de tudo um pouco. Foram tempos difíceis e admito que pensei em desistir da ideia do regresso”, disse.
A energia eléctrica tem servido de motivação para a superação de muitos obstáculos.
Por exemplo, a escuridão no período nocturno foi superada pela iluminação pública. O canal A da Rádio Nacional de Angola é recebido em perfeitas condições e, em Fevereiro último a montagem de um repetidor tornou real o sinal da televisão. Em jeito de brincadeira, Ana Pedro diz que o “sono forçado” é obra do passado.
A conquista da paz tem proporcionado condições para a melhoria da qualidade dos serviços de saúde na Banga, e o aumento gradual de técnicos e de infra-estruturas hospitalares é hoje uma realidade.

Doença do sono extinta

Um médico e 35 enfermeiros garantem os serviços básicos de saúde em cinco postos médicos e um centro municipal. Enfermidades comuns como a malária, tosse convulsa, diarreias agudas e doenças respiratórias conheceram um decréscimo nos últimos anos.
“Reduziu consideravelmente o número de óbitos, salvo um ou outro caso esporádico, sobretudo de paludismo, porque as principais patologias encontram resposta nas nossas unidades de saúde”, afirma convicto Cristóvão João Kieza.
A doença do sono, que constituía numa dor de cabeça para as autoridades, foi extinta. As conclusões dos últimos testes realizados apontam que a situação está completamente ultrapassada. O programa de saúde primário em boa hora veio acabar com o transporte de doentes em condições pouco dignas. O transporte agora é feito por duas ambulâncias, enquanto uma carrinha apoia as campanhas de vacinação.
Cristóvão João Kieza, que reconhece os pontos fracos e a importância do sector, defende a consolidação do que foi feito e aponta novas metas: “Faltam-nos mais oito postos de saúde e quatro médicos para cobrir a rede sanitária nas especialidades de pediatria, ginecologia e clínica geral”.

Núcleo de ensino médio

A rede escolar comporta 23 escolas, 12 das quais de carácter definitivo e as restantes são provisórias e que a princípio aguardam a cedência dos recursos financeiros para serem reabilitadas.
Para o presente ano lectivo estão matriculados mais de 3.500 alunos que têm vindo a ser acompanhados por um corpo de aproximadamente 150 professores. Neste grupo se inclui a professora Teresa Miguel, que não poupa elogios pelo interesse que é demonstrado por jovens e idosos na formação académica. Aponta a inscrição de 1.500 pessoas no programa de alfabetização como prova irrefutável.
Mas, o que anima de modo particular os jovens é a entrada em funcionamento, pela primeira vez, de um núcleo do ensino médio, enquanto a melhoria das condições de ensino e de acomodação faz com que professores provenientes de outros municípios se mantenham na Banga. Em busca do tempo perdido está Osvaldo Adolfo, 23 anos, que ficou privado de estudar durante seis anos. Estudante da 11ª classe, lembra que no início de 2008, as aulas decorriam em estruturas degradadas e sem tecto, condição que obrigava a interrupção das aulas no período chuvoso. As dificuldades agudizavam porque o mesmo espaço era partilhado por mais de 60 alunos. Perfeitamente integrado e satisfeito com a vida de estudante, Osvaldo Adolfo até sorri por ter menos de metade daquele número como colegas de sala.

Leandro - Um comerciante com amor à terra (BANGA)

Notícia do Jornal de Angola (11/11/2011) enviada pelo nosso colaborador António Cardoso
Quem chega pela primeira vez à sede municipal da Banga, rapidamente verifica que a actividade comercial é desenvolvida de forma incipiente e com muitos constrangimentos.
Das 75 lojas de comércio que lá existem, apenas 20 mantêm abertas as portas para atender um universo de 1.892 habitantes. São números considerados exíguos pelas autoridades municipais, que admitem que o comércio está longe de acompanhar a dinâmica de crescimento que o município atingiu. Em função do défice de crescimento que se regista neste sector a população vê-se obrigada a percorrer longas distâncias para adquirir determinados bens de consumo.
O apelo da população encontra eco nos comerciantes que se queixam de dificuldades para transportar os produtos. Mas, esta contrariedade não impede o senhor Leandro Diogo, um ilustre filho da terra, de manter aberto o seu negócio.
Proprietário do estabelecimento comercial Kangundo, gere o seu negócio desde o início dos anos noventa e, hoje, mantém-se de pé por amor à terra que o viu nascer.
Com o semblante triste, recorda os dias que se seguiram à ocupação militar da Banga, durante o conflito pós-eleitoral de 1992. Na longa caminhada para a fuga, à semelhança de muitos habitantes, perdeu tudo aquilo que havia conquistado com sacrifício e muito suor.
Leandro Diogo fala comamargura da dureza do regresso e os assustadores vestígios da guerra que encontrou. A persistência falou mais alto e graças à força de vontade conseguiu reerguer o empreendimento.
“A guerra atrasou o nosso percurso, fomos forçados a abandonar o município e fugir para Ndalatando e depois para Luanda. Foram tempos difíceis, mas hoje as coisas mudaram para melhor”, disse com satisfação.

Quando olha à volta e vê o que é hoje o seu estabelecimento, o comerciante sente que valeu o esforço consentido e o apoio das autoridades. O quotidiano de Leandro Diogo é marcado pelo entra e sai de clientes na loja, que gere com a ajuda de três trabalhadores.
“Aqui, a estrada ainda é um quebra-cabeças, sei que podemos fazer muito mais, só que as dificuldades económicas têm impedido”, disse.

Ministra Carolina Cerqueira inaugura escola em Samba Cajú

A ministra da Comunicação Social, Carolina Cerqueira, inaugurou, na quarta-feira, no município de Samba Cajú, uma escola do ensino primário, no âmbito das comemorações do 4 de Fevereiro, dia do início da luta armada de libertação nacional.
A escola, orçada em mais de 32 milhões de kwanzas, com quatro salas, áreas administrativas e casa para o director, foi reabilitada e ampliada em seis meses.
Os alunos mostraram-se, naturalmente, satisfeitos por passarem a dispor de uma escola reabilitada e apetrechada com carteiras novas e prometeram que vão procurar conservar o imóvel.O governador provincial pediu aos alunos e professores que tratem bem da escola que, este ano tem 538 alunos, da iniciação à sexta classe. Na Banga, Henrique Júnior e Carolina Cerqueira colocaram a primeira pedra do edifício do comando municipal da Polícia Nacional.

Melhorias em SAMBA CAJÚ

Notícia do Jornal de Angola enviada pelo nosso colaborador em Luanda António Cardoso.

O administrador municipal de Samba Cajú realçou, na quarta-feira, num encontro com os jornalistas, os benefícios registados ao longo dos 36 anos de Independência Nacional, proclamada em 11 de Novembro de 1975.
João Leitão salientou, entre as conquistas obtidas depois da independência, a construção e reabilitação de infra-estruturas nos domínios da educação, saúde, água e energia eléctrica.
Antes da independência, recordou, o município de Samba Cajú tinha 20 escolas do ensino primário e agora tem 57, distribuídas por quase todas as aldeias, o que permite a inserção de um número, cada vez maior, de crianças no sistema normal de ensino.
Na saúde, realçou a construção de unidades sanitárias em todos os sectores e na única comuna de Samba Cajú, o que permite a cobertura sanitária de todo o município.
O administrador realçou também o programa “água para todos”, que aumentou a capacidade de distribuição à vila, que passou de 50 para 70 metros cúbicos, e permitiu a construção de chafarizes e de novos sistemas de abastecimento na maioria das aldeias.
João Leitão salientou, igualmente, o facto de a sede municipal e o sector do Pambo dos Sonhi terem, pela primeira vez, energia produzida na barragem hidroeléctrica de Capanda, o que contribui para desenvolvimento do município.

A Lagoa de Kassombe ( BANGA)

Publicado no "Jornal de Angola" de 11/11/2011, e enviado pelo nosso colaborador em Luanda, António Cardoso.
(Lagoa principal atração da Banga, que todos nós conhecíamos, mas cuja lenda associada não conhecia. Noto aqui uma contradição nas datas, talvez fruto de uma gralha
.)

Kassongue é uma lagoa que fica mesmo pertinho da vila da Banga. Fica apenas a uns quatro quilómetros de distância da vila. Muita gente a conhece como Lagoa da Banga.
Durante o reinado de Dom João Faustino Mzuzo Muta Mussaka em Caculo-Cahui, o espaço onde é hoje a lagoa da Banga estava coberto de baçoeras, plantas que servem para a construção de luandos, facilitada pela humidade. O espaço foi descoberto por Dom Faustino em 1457.
Dom João Faustino desempenhou o cargo de soba municipal. Após a sua morte, foi indicado Dom João Matulo para governador daquela região, com o objectivo de controlar o parque até 1915, altura em que é substituído por Dom Kumbi Kalembe.
A Lagoa de Kassongue foi criada no dia 30 de Junho no longínquo ano de 1972, pelo comerciante José Brito Afonso.
O comerciante Brito nunca imaginou que a sua obra estivesse hoje rodeada de mística e falares da boca popular. O surgimento da lagoa é hoje atribuído à exigência dos seus filhos, um casal de gémeos, que em sonhos lhe pediam para construir uma piscina.
Foi tanta a insistência dos seus rebentos, aliada a característica especial dos gémeos, que o comerciante decidiu dirigir-se ao soba de Caculo-Cahui, Dom André, que o autorizou a construir a pretendida piscina, na reserva do parque que na altura estava coberta de plantas aquáticas que servem para a construção de luandos. A empreitada foi terminada num prazo de 30 dias.
Outros atribuem o surgimento da lagoa à necessidade de abastecer de água o gado de José Brito Afonso, que pastava em abundância no lugar. Num certo dia se decidiu mandar vir uma escavadora e resolveu abrir uma represa de menor dimensão. A pouco e pouco e pelo facto de estar numa bacia hidrográfica de onde nasce o famoso rio Lumbinji, o lago foi aumentando de dimensão até ter nos nossos dias a extensão de dois quilómetros de comprimento e 500 metros de largura.

A bacia é ainda fonte dos rios Koma, Kassange e Ndualumbi, que desagua no rio Lumbiji, na mesma região. Nesta região da lagoa também abundavam animais selvagens, e por isso era frequente a caçada de veados, socos, pacas, pacaças, coelhos e outros animais.
Na altura o homem, quando viu alargar-se o seu empreendimento, arranjou cerca de 100 espécies de peixes, dos quais cacussos, tainhas, bagres, matona, cachuchu e outras, e colocou-os na água da represa.
O regedor, vendo a importância da lagoa, convidou todos os velhos de Caculo-Cahui, para realizarem um ritual tradicional, “para amenizar os espíritos da sereia e dar sorte ao branco alheio”. Para os sobas desta região, cabe ao governo tratar dos assuntos visíveis e as autoridades tradicionais das questões invisíveis.
Talvez tenha nascido daí a misticidade da lagoa do Kassongue, que acolhe os espíritos dos seus ancestrais, onde a vida do passado ainda se faz presente. Circula à boca pequena que, quando frequentada por pessoas estranhas, sem a prévia autorização dos seculos (velhos), tal pode causar problemas e inclusive levar à morte de pessoas.
Luís Adolfo Sango, da área social da administração municipal, disse que os visitantes não podem banhar na lagoa sem primeiro contactarem as autoridades tradicionais, para cumprirem com os rituais da região. “As pessoas que desobedeceram morreram neste local” - disse.
Até ao momento já foram registadas quatro mortes por afogamento, entre as quais a de um casal de portugueses, em 1974, e dois jovens, cujos restos mortais até hoje não foram encontrados.
Para pôr cobro à vandalização da lagoa a sua administração estabeleceu um período de pescaria, que vai de três em três meses. Referiu que todo o peixe capturado é vendido por ordem da administração municipal da Banga.
Entre a mística e o realismo, o que é certo é que a população da vila e dos bairros circunvizinhos tem na lagoa uma das suas fontes de fornecimento de pescado